Ani DiFranco – ¿Which Side Are You On? (2012)

Origem: Estados Unidos
Gêneros: Folk Rock, Indie Rock
Gravadora: Righteous Babe

Em seu décimo sétimo disco de estúdio, a guitarrista, cantora, compositora e vencedora de um Grammy, Ani DiFranco, ícone feminino, lança em Janeiro ¿Which Side Are You On?, disco no qual tem uma duração aproximada de 53 minutos, contendo 12 faixas, é um exemplo perfeito de como as vezes um gênero musical pode ser interessante, viajantes e divertido e outrora inanimantes e desinteressantes em um mesmo álbum.

Disco calmo e suave, Ani DiFranco nos dá um trabalho de estúdio que seria recomendado a todos que gostam de ouvir uma música graciosa e relaxante em determinados momentos de sua vida. O Folk desta moça, apesar de ser o que já descrevi aqui em cima, também é um trabalho com alguns sons experimentais (e bem feitos, diga-se de passagem), sendo alguns não muito notáveis como na primeira (e de certa forma chata e um mau começo) faixa, “Life Boat”, já outros bem perceptíveis. Faixas como “Unworry”, “Prosmicuity”, a curta “If yr Not”, a parcialmente tensa “Amendment”, “J”, que parece um Reggae, e a faixa título é que fazem o trabalho de Ani DiFranco acima de média, sendo elas empolgantes mas não são pesadas ao ponto de estragar seu relaxamento, principalmente na faixa título, onde a mulher faz uma ótima interpretação. Outro destaque positivo é a diferenciação entre as faixas do álbum. Quando você escuta cada canção, você percebe que elas não são composições parecidas, são diferentes e elas todas encaixam na obra, o que é sensacional e coerente.

Claro, nem todas as faixas são espetaculares. Como já citada “Life Boat”, “Splinter” é estranha e lembra Mallu Magalhães, e todos nós sabemos o quão entediantes são as músicas da “menina do camelo”. “Albacore” tem ótimos momentos e outros tão sem graça que vale a pena pular para a próxima faixa. Apesar de ter um começo interessante, “Hearse” entra naquele marasmo cansativo de outras faixas que só da vontade de pular ela. “Mariachi”, junto com a faixa de encerramento, “Zoo”, são canções meramente esquecíveis e que não colaboram muito para a qualidade do álbum, principalmente “Zoo” por ser o final do disco e não ser nenhum pouco marcante o que na verdade deveria ser, pois todo fim de álbum na opinião de quem escreve deve ser importante e marcante, e não sobras de estúdio.

Chegando a uma conclusão, ¿Which Side Are You On? é um bom disco, relaxante, e alguns momentos divertidos, mas que por certas passagens sem muita criatividade que as vezes lembram o próprio Caetano Veloso no banheiro após comer a feijoada de Gilberto Gil que acabam abaixando o nível do disco. Ele é ótimo para você ir dormir ouvindo, com certeza sua insônia será curada pela doce voz de Ani DiFranco.

Dream Theater – Six Degrees Of Inner Turbulence (2002)

Origem: Estados Unidos
Gênero: Metal Progressivo
Gravadora: Elektra

Outra banda do tipo “ame ou odeie”, Dream Theater lançava em 2002 seu sexto disco de estúdio, Six Degrees Of Inner Turbulence, com a duração exata de 96 minutos e 13 segundos (se contarmos os dois lados juntos). Banda conhecida por sua grande técnica instrumental virtuosa e por canções por longa duração, a banda na época era co-liderada por Mike Portnoy (baterista, percussionista e vocais de apoio) e por John Petrucci (guitarrista e vocais de apoio), junto de outro co-fundador, John Myung (baixista), do subestimado canadense James LaBrie (vocalista) e do, agora careca, Jordan Rudess (tecladista), “renasciam como uma fênix” após o lançamento do criticado Falling Into Infinity de 1997 com Metropolis Part. 2: Scenes From A Memory em 1999. Com o lançamento deste álbum duplo, o Dream Theater só deu alegria a seus exigentes fãs, mesmo tendo mais influências do Metal do que nos discos anteriores.

Este álbum duplo é de certa forma conceitual. O primeiro lado, que contém cinco faixas, trata sobre diferentes temas que podemos encontrar em nossa vida, como alcoolismo, perca de fé, auto-isolação, debates religiosos e científicos e morte. Este lado trás um Dream Theater experimental e pesado, diferente do que os fãs estavam acostumados. Enquanto o outro lado, composto por apenas uma faixa, será relatado mais abaixo. Este segundo lado trás um Dream Theater clássico, que os fãs conhecem e já estão acostumados. É estranho o disco possuir apenas seis faixas, mas é um pequena ideia que a banda começou a construir e foi se desenvolvendo em Train Of Thought com suas sete faixas e terminou no álbum mais misterioso da banda, Octavarium, com suas oito faixas. Bem, pelo menos é o que eu acho que a banda quis passar. Em Systematic Chaos, temos sete músicas e em Black Clouds & Silver Linings temos seis faixas. Queria saber o que iria acontecer se Mike Portnoy ainda estivesse na banda, como seria o próximo álbum, já que ele era o grande idealizador, segundo os outros integrantes da banda. Bem, após essas informações, vamos as músicas, que são o que realmente importa!

O primeiro lado do disco duplo começa com ruídos, no qual são totalmente audíveis na última faixa de Metropolis Part. 2: Scenes From A Memory, “Finally Free”. A faixa vai crescendo e a banda vai aparecendo devagar mas fazendo barulho, e quando você menos espera, a banda te põe no meio de uma colisão com um trem, e seus ouvidos recebem poderosos solos. A faixa de abertura é “The Glass Prison” que possui quase 14 minutos de duração, na qual é o começo de uma nova saga no Dream Theater, que levaria outros quatro álbuns. A música conta a história de Mike Portnoy e sua reabilitação do alcoolismo, que também já tinha tornado em música, na faixa “The Mirror” no Awake de 1994. “The Glass Prison” é composta de três partes (“Reflection”, “Restoration” e “Revelation”, respectivamente), e Portnoy estendeu-la em 12 partes, que imitam os 12 passos do programa de AA (Alcoólicos Anônimos) por Bill Wilson para reabilitação de alcoólatras. Esta música é continuada em músicas dos quatro seguintes álbuns (“This Dying Soul” em Train of Thought [“Reflections of Reality (Revisited)” e “Release”], “The Root of All Evil” em Octavarium [“Ready” e “Remove”], “Repentance” em Systematic Chaos [“Regret” e”Restitution”] e finalizando com “The Shattered Fortress” em Black Clouds and Silver Linings [“Restraint”, “Receive” e “Responsible”]). A música é uma sonora porrada, com muito solos, rápida, pesada e principalmente, técnica. É um ótimo começo para aqueles que já conhecem a banda e que gostam de Metal, mas aqueles que estão ouvindo a banda pela primeira vez ou são fãs do velho (e excelente) Rock Progressivo, essa música não é das mais atrativas, principalmente pelos seus exageros, mas ela não deixa de ser boa. Portnoy faz os co-vocais com  LaBrie, e até que é bem feito, com exceção de certos agudos do canadense que são irritantes.

A próxima faixa é ‘Blind Faith”, que teve sua letra composta pelo vocalista, que pelo nome dela já dá para ter uma noção sobre seu tema. É uma música com uma pegada mais progressiva, começando calma e linda e vai se tornando um Hard Rock cheio de pegada. Ela dura um pouco mais que 10 minutos e tem um magnífico solo de piano mandado por Jordan Rudess e John Petrucci faz um de seus melhores solos (até 2002). Tem um refrão grudento e muito bem feito. Falando em Jordan, aqui o homem faz um trabalho majestoso em seu equipamento. LaBrie tem um bom destaque nas linhas vocais, se formos comparar com certas canções onde ele só começa a cantar a partir dos 5 minutos, na primeira parte de “In The Presence Of The Enemies” do Systematic Chaos (e essa é a faixa de abertura). Apesar de “The Glass Prison” ser um começo melhor que “Blind Faith”, a segunda faixa é melhor, sem tantos exageros como a primeira. “Misunderstood” com seus quase 10 minutos é a terceira faixa, é quase uma balada, se não fosse sua progressão e seu fim experimental e sem retorno ao que iniciou-se na canção. Começa com os acordes de John Petrucci e ela vai tão calma que você mal percebe que James está cantando o refrão da música. Talvez perceba que o refrão é conduzido pelo baixo de John Myung, ao invés de continuar com a guitarra de Petrucci. A música vai andando devagar, até chegar próximo ao refrão, onde James faz uma interpretação mais tensa mas ainda continua bonita e somos guiados a um energético refrão, que sem duvida é um dos melhores da banda. Após o refrão, nossos tímpanos recebem riffs tenebrosos (no bom sentido) e um solo de guitarra espetacular, e após a terceira e última repetição do refrão, somos guiados para aqueles riffs tenebrosos e então temos uma seção experimental demonstrada por Jordan e por Petrucci. Enquanto Jordan faz com que seja transferido sons de um lado para outro, John destrói com um solo “duplo reverso”. Algo estranho e bisonho que faz jus ao nome da música. O fim quase estraga uma bela canção onde o canadense interpreta perfeitamente.

Somos acolhidos por vozes debatendo um assunto muito polêmico na época e ainda continua muito polêmico. Enquanto as vozes debatem, a banda vai fazendo a música, que vai progredindo, e então, ela começa com uma mistura entre Hard Rock e Metal. E logo em seguida, vozes com efeito de estúdio são usadas para James durante as duas primeiras estrofes. Essa música é “The Great Debate”. “The Great Debate” com seus também quase 14 minutos fala sobre as células tronco. E a banda aborda de uma maneira excelente, mostrando os dois lados da moeda. É uma das melhores linhas de bateria de Mike Portnoy, senão a melhor, além de ser uma das melhores letras do grupo de Boston, Massachusetts, nos deixando com duvidas sobre qual lado é o certo, qual lado que devemos seguir e qual é o lado errado e que devemos repudiar. Em seu final, após outros virtuosos solos, as vozes voltam para encerrar a música. Ótima faixa! Para encerrar o primeiro disco, temos uma balada, que começa com som de pássaros e um piano muito triste. “Disappear”, também composta por James Labrie, possui quase 7 minutos de duração e é uma canção do tipo que você deve escuta-la quando estiver muito depressivo. Ela fala sobre a morte de alguém que amamos. Após quatro faixas poderosas, a banda faz bem em encerrar com uma balada. Seu final é de arrepiar graças ao vocalista, que faz uma de suas linhas vocais mais lindas. Para uma balada, que contém experimentalismo, é estranhamente motivo para regozijo. Muito bem composta. E assim terminamos o primeiro CD, que dura 54 minutos aproximadamente, em boa parte pesado, técnico e experimental. Vamos para o próximo lado do álbum, que trás o Dream Theater clássico…

O segundo disco é composto somente pela faixa-título de 42 minutos e 4 segundos e é dividida em 8 partes que juntas falam sobre seis diferente indivíduos com problemas mentais. A primeira parte é “Overture”. Faixa instrumental extremamente épica com quase 7 minutos de duração. Uma das coisas mais épicas que a banda já fez, que facilmente estaria em qualquer jogo da franquia Final Fanatasy. Nela é percebível várias partes que serão escutadas futuramente, como se ela fosse a base de tudo. A música composta por Jordan Rudess, apesar de ser estupenda, ela é muito cansativa e até chata, dando vontade de pular logo para a próxima parte, que é “About To Crash”, na qual seu tema é transtorno bipolar. É uma música viajante e absurdamente linda em seus quase 6 minutos de duração! Solos de Petrucci com uma cara de David Gilmour e o piano de Jordan, que lembra “Flick Of The Wrist” do Queen (principalmente na introdução) são mágicos, além de um James LaBrie muito empolgado. Uma das minhas preferidas do grupo. Após essa linda e de certa forma calma passagem, temos “War Inside My Head” com um pouco mais de 2 minutos de duração, que retrata o estresse pós-traumático. É aqui onde as coisas começa a ficar com cara de Metal. A interpretação de LaBrie aqui é forçada, mas que encaixa muito bem no que é pedido na terceira parte. Mike Portnoy ou John Petrucci participa do refrão com James. No momento que um dos dois citados anteriormente vai encerrar o refrão pela segunda vez, a música interrompida brutamente por sons de teclado e por, desculpe o termo chulo, masturbação musical. Em outras palavras, acontece uma fritação que seria capaz de fritar um ovo em menos de 30 segundos. Quando a fritação acaba, somos brindados com poderosos riffs com uma faceta Metallica e uma forte voz vinda de LaBrie. “The Test That Stumped Them All”, com mais de 6 minutos, fala sobre esquizofrenia e se não fosse pelo refrão diferenciado e com uma voz bem louca em falseto mandada por Portnoy, seria quase um cover do Metallica. Outra ótima passagem, e que junto com “War Inside My Head” fazem bem ao lado Metal do grupo. Em seu fim, somos levados para uma seção instrumental e poderosa que com seu fim, as coisas começam a acalmar.

“Goodnight Kiss” é a adjacente, e ela retrata a depressão pós-parto em seus 6 minutos aproximadamente. Uma dos momentos mais calmos da banda, e tristemente chato. É muito bonito em sua primeira parte e até medonho na sua segunda parte com a linha de bateria marcante por Portnoy com sons de uma mulher durante o parto, mas ela é chata e entediante. Mais que a própria “Overture”, mesmo sendo boa e bem composta. A próxima parcela da longa canção descreve o autismo em quase 6 minutos. “Solitary Shell” é agradável e graciosa com seu Folk, levantando a baixa moral deixada por “Goodnight Kiss”. É também um dos meus momentos prediletos da banda. Prosseguimos com 4 minutos de “About to Crash – Resprise”, que novamente retrata o transtorno bipolar, mas de outra maneira, com uma pegada mais Hard Rock e com um bom vigor. Apesar de ser animada, não é muito atrativa, principalmente a voz de James, que chega a ser chata em certos momentos, infelizmente. Após toda essa longa estrada, chegamos ao fim. “Losing Time/Grand Finale” aborda o transtorno de dissociação de personalidade em seus 6 minutos. É o melhor final que a banda poderia nos dar. Extremamente épica, James realmente parece um tenor de ópera, e dando uma performance magnífica. Tudo nesse fim soa perfeito, mesmo com certos momentos chatos e outros espetaculares, “Losing Time/Grand Finale” é (também) um dos momentos favoritos já feitos pela banda. O sentimento que esse final me passa (principalmente na voz de James) é inexplicável. Por esse (e outros motivos) eu desejo que James LaBrie continue sendo a voz do Dream Theater, pois ele é espetacular e muito subestimado e que foi diversas vezes questionado a sair da banda,  não só pelos próprios fãs da banda, mas por Mike Portnoy, que ameaçou o canadense a sair da banda caso ele não melhorasse sua voz, que vinha desde de um envenenamento alimentar ocorrido na turnê do Awake em 1994/1995 em Cuba. Quando chegamos ao fim, somos levados ao um som que seria o começo de “As I Am”, a primeira faixa do próximo disco da banda, Train Of Thought. E após este final soberbo e mágico, chegamos ao fim deste excelente álbum duplo.

O Dream Theater mesmo sendo odiado (e as vezes com razão), não pode ser desconsiderado como uma banda importante na cena do Metal, principalmente por trazer o Rock Progressivo de volta a indústria da música (seja o velho Progressivo, ou o novo rosto, com uma de Metal) e por ser a banda mais famosa do Metal Progressivo, gênero que a banda foi classificada. Six Degrees Of Inner Turbulence é um dos melhores álbuns da banda e se você ouvi-lo, terá o prazer de ouvir composições bem trabalhadas, além de experimentalismo e ideias criativas que ultimamente nós não temos tanta facilidade em achar no cenário musical (e no próprio Dream Theater após esse álbum). Mesmo com seus defeitos, este álbum é quase uma obra prima que deve ser degustada com paciência e com boa vontade para aproveitar cada instante que ele pode te proporcionar.